
Portrait a L'Helice, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'Helice, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'Helice, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'Helice, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'ecume, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'ecume, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'ecume, Laurent Fievet, 2007

Portrait a L'ecume, Laurent Fievet, 2007

Lovely Memories, Laurent Fiévet, 2007

Lovely Memories, Laurent Fiévet, 2007

Lovely Memories, Laurent Fiévet, 2007
LAURENT FIÉVET
Potrait a l'Helice
Técnica : Vídeo, cor, s/ som e 3 ventoinhas.
A montagem utilizou um curtíssimo excerto de 'North by Northwest', de Alfred Hitchcock (1959) e diversos detalhes de 'The Shipwreck'. de J.M.W. Turner (1805). Duração: 36’ 45” em loop; assistência técnica e de montagem: Cédric Jouan; assistência técnica à montagem da instalação: Davide Freitas.
Esta obra foi criada em 2006 mas apresentou-se pela primeira vez sob a forma de exposição em “Under Hitchcock”.
A instalação associava, por meio de uma sobre-impressão, um grande plano de Eve Kendall (interpretada por Eva Marie Saint em 'North by Northwest') e uma paisagem marítima de Turner, intitulada 'The Shipwreck', que representava diversas embarcações capturadas por uma tempestade. O plano onde aparece a heroína do filme foi apresentado num ecrã suspenso, disposto em diagonal relativamente ao espectador. Três ventoinhas funcionavam na direcção do ecrã e por vezes iniciavam o seu movimento com a chegada dos visitantes. Totalmente concebido em torno da ideia de corte, a montagem fez uma declinação de inúmeras propostas que confrontavam o enquadramento de Hitchcock com diversos detalhes da composição de Turner. Quase imóvel no início do vídeo, o rosto de Eve animava-se gradualmente e começava por rodar, mimetizando o movimento giratório das hélices das ventoinhas, como se procurasse o olhar dos visitantes escondidos na penumbra. A instalação estabelecia uma relação, implicitamente directa, entre o sopro das ventoinhas e a representação da tempestade no quadro de Turner. A deslocação do ar provocada pela rotação das hélices era exposta no seio de um dispositivo cenográfico e era o principal elemento que subvertia a calma aparente do retrato. Enquanto que Eve Kendall desviava regularmente o rosto para olhar na direcção de uma das hélices, a sua cabeleira desdobrava-se em vagas que ondulavam no ecrã, elevando-se ao ponto de ameaçar as embarcações do 'The Shipwreck'. Noutros momentos foi o quadro de Turner que introduziu um perigo no universo do filme. O seu rosto aparecia submerso entre as vagas bem como o seu pescoço aparecia ligeiramente dilacerado pela vela de um navio que aparecia no centro da composição como a lâmina de um machado gigante. A instalação propôs uma reflexão sobre a natureza do olhar do espectador do filme, que era multiplicado figurativamente pela presença das ventoinhas na sala de exposição e ricocheteado pelo olhar de Eve Kendall. A angustia causada pela representação da tempestade repercutia-se fora do ecrã graças ao turbilhão gerado pelas hélices.
Portrait a l'Écume
Técnica : vídeo ; c/ cor, s/som ; máquina de bolas de sabão e projector; duração aproximada das montagens : loops de cerca 6 a 8 min; assistência técnica à montagem: Xavier Gautier; assistência técnica à instalação: Davide Freitas; instalação criada para a exposição “ Under Hitchcock ”. Da série 'Essence de l’Image', 'Portraits Olfactifs'.
Consagrado à personagem de Madeleine (Kim Novak) em 'Vertigo', 'Portrait à l’écume' desenvolve-se em dois espaços contíguos. No primeiro, num respiro do edifício encontra-se instalada uma máquina de bolas de sabão, que projecta intermitentemente, bolas de sabão. Num segundo espaço interior é projectada a montagem que reúne diversos extractos de 'Vertigo'. No primeiro espaço as bolas de sabão são a metáfora da desencarnação de Madeleine e excluem qualquer recurso às imagens do filme. De acordo com o estatuto que lhe é atribuído por Hitchcock, Madeleine é um envelope vazio, uma superfície transparente susceptível de desaparecer a qualquer momento. As bolas de sabão róseas propõe igualmente a materialização do seu rastro olfactivo. Sugerindo a passagem da personagem pelo jardim, e fazendo eco à sua ausência. Madeleine aparece simultâneamente como um fantasma e uma criatura inacessível, um objecto sofisticado e ofuscante de desejo que a extrema fragilidade das bolas simboliza impossível de capturar. Esta representação, não encontra uma correspondência explicita no filme, encontra-se ancorada numa outra referência presente em 'Vertigo'. Diversas vezes, e particularmente na sequência em da sua primeira aparição na historia, Madeleine é comparável à figura central do Nascimento de Vénus de Sandro Boticcelli. As bolas de sabão que percorrem a Solar substituem as rosas perfumadas que no quadro caiem numa chuva em torno da deusa. Materializam a espuma que na mitologia greco-romana dá nascimento a Vénus. A montagem vídeo apresentada num segundo espaço detém-se nos numerosos décors do filme, com o recurso à dissolução das imagens no ecrã negro, que permite reagrupar os espaços invocados. Mesmo se se apresentam a um olhar mais distraído isentos de presença humana, adquirem vida por imperceptíveis movimentos ou aparições fantomáticas, que imprimem um ritmo lancinante à projecção. Induzido pelo ritmo dos planos e pela sucessão dos décors que respeitam aproximativa mente o desenvolvimento da historia de 'Vertigo', o espectador faz livremente apelo às suas recordações do filme, como faria um músico perante uma partição musical incompleta.
Lovely Memories
Doze montagens utilizando diferentes extractos de 'Frenzy', de Alfred Hitchcock (1972). Duração das montagens : de cerca 11 segundos a 13 minutos; assistência técnica à montagem: Xavier Gautier; assistência técnica à instalação na galeria: Davide Freitas; instalação criada para a exposição “ Under Hitchcock ”. Concebido para a exposição Under Hitchcock. Série 'Essence de l’Image', 'Portraits Olfactifs'.
Uma enorme quantidade de batatas encontra-se amontoada no espaço da exposição. Um sapato de mulher, um escarpin, jaz no topo do monte de tubérculos no qual foi enterrado parcialmente um velho televisor. No ecrã podemos vislumbrar um extracto de 'Frenzy', onde vemos o personagem de Brenda Blaney (Barbara Leigh-Hunt) a tentar arrancar-se de uma poltrona. Um baloiço está pendurado em frente ao televisor. O visitante pode sentar-se para ver as imagens no ecrã ou para se balançar por cima das batatas. Quando o baloiço entra em movimento a imagem de Brenda desaparece momentaneamente dando lugar a uma outra série de montagens onde aparecem, sob a forma de flashes, diferentes extractos de 'Frenzie'. Emergindo do aparelho uma voz inicia uma ladainha “ - lovely, lovely, lovely’s… ”, proferidos ameaçadoramente. Uma webcam esta escondida entre as batatas, de forma a filmar em plano inclinado os visitantes que se balançam na sua direcção. As imagens que a câmara capta são difundidas em directo num ecrã de computador disposto num outro espaço da galeria. A presença dos tubérculos remete imediatamente para uma das sequências de 'Frenzy', onde Rusk tenta recuperar entre os dedos de Babs, dissimulada dentro da carga de um camião, o alfinete de gravata que poderia permitir à policia identificá-lo. O baloiço e o sapato de tacão alto que empoleira o montículo alude à pintura 'Les Hasards Heureux', de 'L’Escarpolette', de Fragonard, cuja reprodução aparece no filme, pendurada exactamente atrás da secretária de Babs. Decidindo baloiçar-se o visitante assume um duplo papel. Por um lado assimila-se a Babs sendo projectado como ela em direcção ao monte de batatas e també na Brenda, outra vítima de Rusk, que apresenta características que a assemelham à figura feminina de Fragonard.
A montagem reforça esta analogia. Os movimentos de Brenda são re-trabalhados para simular o seu balanço na excarpolette. Anunciando ou prolongando o baloiçar dos visitantes sobre as batatas, estes movimentos provocam entre o personagem e os visitantes, um jogo de espelho que reforça a projecção no universo da pintura e do filme. Era assim instalado um perigo suspenso, uma ameaça que o visitante pode escolher desafiar ou não, arriscando-se fisicamente no seio da instalação, esta vertigem pode recordar a do abandono a que se entrega o espectador numa sala de cinema.